quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ordem para Matar

Operação ao coração, num doente de 85 anos que nunca se queixou nem teve episódios de qualquer insuficiência cardíaca: alarmaram o doente e a família da sua necessidade mostrando o clínico estupefacção por nunca terem ocorrido sintomas ao paciente, mas que ainda assim os exames detectaram problemas que impedem o avançar com a operação à hérnia inguinal pois esta sem a outra era condenar o paciente a uma morte certa na própria sala de operações.




Antes ainda fizeram:




Extracção de enfiada com anestesia geral,da totalidade dos dentes no mesmo acto médico: alegaram que a intervenção ao coração não se pode proceder sem os dentes extraídos, com desculpa do risco de infecção pós-operatória. Esta operação decorreu com sucesso, tendo o doente suportado bem a anestesia geral. Colocada esta dúvida ao hospital, de que se o coração do doente suportou esta anestesia geral, não suportaria também a anestesia para a operação à hérnia, foi informado pelo especialista clínico que, se "se não fizer as três operações: dentes, coração e hérnia, o doente morre", pois o sucesso da última depende das duas anteriores.








Paragem cardíaca: após a operação ao coração, a mesma foi considerada um sucesso pelos seus autores tendo o doente abandonado a Unidade de Cuidados Intensivos e sido conduzido ao Internamento; porém passado algumas horas, ocorreu uma paragem cardio-respiratória que o devolveu à UCI. Em plena crise cardio-respiratória, lembraram-se de submeter o doente a raios-X, alegaram a existência de pequenos focos de pneumonia, e sujeitaram-no a antibiótico para combater uma alegada bactéria. A partir daqui o doente sofreu os maiores horrores: foi amarrado à cama nos pulsos, para que não pudesse arrancar os tubos que o sustinham à vida artificial, numa UCI em que cada dia que passa custa uma fortuna à família sem qualquer apoio do estado, e onde o hospital só tem a ganhar por cada dia que o doente conseguir sobreviver e por cada produto que é administrado.








Operação à traqueia: diz-se à família que a garganta não aguentou os danos provocados pelos tubos que foram introduzidos para apoio respiratório depois da operação ao coração; assim, abriram uma saída directa pela traqueia, e aí colocaram o tubo. O sangue derramava pelo adesivo que suportava o tubo respiratório. As mãos do doente foram ainda mais apertadas à cama, impedindo-o de qualquer mobilidade, e inchando contínuamente, como e resto do corpo, de uma forma monstruosa. O doente perdeu a voz, não podia escrever limitando-se a articular uns gestos com os lábios que apenas se conseguiam adivinhar. Nesta fase, a esposa questionava o especialista (André Casado) "eu não vejo que a situação esteja bem encaminhada" e este disse: "ele vai sair desta". Também perguntou a outra médica (Cláudia Febra) da UCI "porque é que não seguiram o procedimento proposto no Hospital de S. José, que era apenas de ser operado à hérnia?" e esta respondeu: "se não tivesse sido operado ao coração, a senhora podia encomendar o fato do funeral". Com tantos líquidos injectados, alegaram problemas nos rins, que deixaram de poder funcionar, então invocaram a necessidade de proceder a hemodiálise. Nesta altura, o doente encontrava-se inchado em todo o corpo, começando a derramar líquidos pelos braços amarrados, e apoiados em material absorvente. Às sete da manhã do dia 14, a família foi informada do seu falecimento.








Operação à hérnia: esta foi a única operação que os familiares solicitaram ao hospital, porque o doente estava impossibilitado de evacuar perdendo uma função vital. Esta intervenção não foi prontamente atendida e invocando para tal o peso da sua autoridade médica, ameaçando constantemente com o perigo da sentença que, pelo seu comportamento, se encarregou ele próprio de executar.








Antes de ser internado no hospital da Luz, o paciente tinha dado entrada nos hospitais de S Francisco Xavier e S José; nestes hospitais foi intensamente observado, e nunca falaram de quaisquer problemas relacionados com o coração, que comprometessem alguma intervenção. Por duas vezes teve alta destes hospitais, em Novembro, e só na terceira crise é que os familiares foram sensíveis à sua transferência para o hospital privado, na busca de melhor conforto e só por isto.








Todos os problemas que vitimaram o doente, surgiram após a operação ao coração, e a única operação que foi solicitada, nunca chegou a ser feita.








Gostaria de vir a obter, de quem leia estas linhas, alguma sugestão para o encaminhamento deste caso. A vida não há-de ser reposta, mas se nada fosse feito, a impunidade seria prosseguida numa lógica que não deveria ter lugar numa sociedade como a nossa.

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